Se a vida é uma escola , o relacionamento é a sua universidade. E é por meio dos relacionamentos , principalmente do relacionamento com o parceiro , que mais se pode aprender e crescer. Nascemos mulher e homem , e um anseia pelo outro , pois precisamos um do outro ; precisamos unir-nos ao “outro” física , emocional e espiritualmente. Este anseio está incorporado ao código genético , e a busca do parceiro da vida ocupa uma posição central na vida humana.
Mas quantas vezes se vê um casal cujo relacionamento , depois de anos de convívio , continua cheio de vida ? Quando se pode sentir harmonia e deleite ? Quando a comunicação é ao mesmo tempo profunda e solta ? Quando se percebe que cada um aceitou totalmente o outro , rendendo-se à força divina do Amor ? Quando as diferenças são encaradas como desafios para entender o outro mais profundamente , na certeza de que todos os problemas podem ser solucionados ? Quase nunca.
Com base nas estatísticas , poder-se-ia concluir que , para muitos , a vida em comum é uma carga insuportável , e não o estado harmonioso que as pessoas esperam viver ao se casarem. E mesmo quando duas pessoas ficam juntas e continuam a se amar , há momentos em que se sentem frustradas , brigam ou se distanciam. Será possível superar essas dificuldades , cicatrizar as feridas ?
A abordagem deste texto é muito diferente de outras obras sobre relacionamento. Este texto insere o conflito de casais no vasto contexto das forças cósmicas , iluminando-o a partir da elevada perspectiva de alguém que transcende a dualidade dos dois sexos. Desse ponto de vista privilegiado , ele também vê o interior de nosso coração e de nossa alma , em que há uma divisão interior. Ele mapeia a estrada que leva à auto-unificação e , dessa forma , à união feliz com outro ser humano. Seus ensinamentos são verdadeiramente singulares tanto no alcance como na praticidade.
A história dos relacionamentos de qualquer pessoa revela o seu panorama interior. A partir dessa história , podemos deduzir quais são as opiniões dela sobre a vida , o sexo oposto , o amor e a sexualidade em geral , o casamento e assim por diante. Se você aprender a olhar para si mesmo com honestidade e um certo distanciamento , conservando porém um vivo interesse , ficará surpreso com o que descobrir : você é o co-criador do estado atual do seu relacionamento – ou de sua ausência. As coisas não aconteceram de fora para dentro. Você não é uma vítima.
As pessoas gostam de acreditar que todo problema de relacionamento é provocado por circunstâncias externas ou pelo parceiro. Se o outro mudasse , como a vida seria perfeita ! Esta , porém , é a maior de todas as falácias. Mesmo supondo que você seja um anjo e seu marido , mulher ou companheiro seja um demônio , não é você responsável pela escolha do parceiro e pela decisão de continuar do lado dele ? Mas não estamos supondo que você seja um anjo. Nós – você e eu – sabemos que há realmente uma luz angelical no nosso íntimo , que podemos chamar de Eu Superior : um núcleo amoroso , solícito , altruísta e criativo. Mas também sabemos que existe uma camada menos atraente em volta desse núcleo divino : o eu inferior , egoísta , vingativo e desconfiado , responsável pelas muitas dores que sofremos ou que causamos aos outros , principalmente aos que nos são mais próximos. Sem conhecer esta camada , sem descobrir de que modo começou a existir , sem assumi-la , não poderemos transformá-la. Por maior que seja nosso empenho em fingir que essa camada feia não existe , por mais que tentemos ocultá-la , repudiá-la ou afastá-la por meio da meditação , ela não se dissolverá enquanto não a encararmos diretamente e começarmos a transformá-la conscientemente.
Na maioria das vezes , nem mesmo estamos cientes da existência desse eu inferior. Deveríamos ficar atentos. Não basta desenterrar a história de nossa infância e associar o relacionamento atual às primeiras experiências com o pai ou com a mãe , embora estas sejam muito significativas e forneçam muitas pistas. Também é preciso descobrir , no quadro de nossa alma , o eu inferior e seus efeitos. Sem olhar de frente o que menos nos agrada a nosso próprio respeito , não podemos entender por que não temos um relacionamento funcional e muito menos por que não conseguimos fazer uma mudança significativa.
Muitos problemas da área do relacionamento são provocados pelos sentimentos e pelos pensamentos ocultos no inconsciente. Esses pensamentos e sentimentos não-investigados têm uma lógica peculiar , errônea e infantil. Provocam conflitos na alma. Com a alma em guerra , como você poderia ter um relacionamento saudável com alguém ? Os sentimentos e pensamentos contraditórios e não-resolvidos no eu precisam , em primeiro lugar , ser trazidos à luz. Mas como se faz para reconhecer os conflitos interiores e resolvê-los ?
As respostas estão no núcleo divino interior.
Quais são suas opiniões inconscientes sobre os homens ou sobre as mulheres ? Quais são os seus sentimentos inconscientes sobre o amor e o casamento ? Com a devida orientação , é possível descobrir. Quando o inconsciente se torna consciente , talvez você descubra pensamentos como estes :
“Se eu amar , serei ferido.”
“Se demonstrar meus sentimentos , serei rejeitado.”
“Casamento é escravidão.”
“A felicidade não é para mim.”
Essas “imagens” e outras semelhantes podem vir à tona. Você não saberá quais são as suas convicções pessoais ocultas enquanto não as fizer aflorar , com um inesperado sentimento de alívio. Pois os sentimentos inconscientes ou semiconscientes são como as profecias que se cumprem a si mesmas : você receberá aquilo em que acredita. Quem sabe o que espreita no inconsciente ? Se seus relacionamentos passados obedeceram a padrões definidos , muitas vezes improdutivos ou até destrutivos , fixe para si a meta de averiguar por que eles vieram a existir e como você pode acabar com a compulsão de recriá-los.
Para ser capaz de examinar o que você , lá no fundo , realmente acredita sobre a possibilidade de encontrar o seu parceiro de vida ou de aprimorar seu relacionamento atual , é preciso aprender muita coisa sobre si mesmo , em todos os níveis do seu ser.
Vamos tentar proporcionar instruções muito práticas para a descoberta de si mesmo e para o trabalho de autotransformação – com ou sem a cooperação do parceiro. Ele nos ensina a sair de onde estamos para chegar onde queremos estar. O que ele nos apresenta não são exercícios superficiais , e sim métodos que implicam a disposição de abrir os olhos , de se olhar de frente com sinceridade e sem sentimentalismo , de trilhar o caminho espiritual. Esse compromisso proporciona grandes recompensas : desenvolvimento espiritual e psicológico , autenticidade , alegria. E delas decorre a capacidade de criar um relacionamento com um parceiro igualmente preparado para se relacionar , se revelar e retribuir.
Talvez você já tenha tentado colocar o outro em primeiro lugar , amá-lo incondicionalmente , ser paciente , nunca fazer ameaças , permanecer sempre calmo e amável. Essas nobres resoluções não duram muito quando são superpostas a camadas de conflitos não-resolvidos , não apenas com o parceiro , mas também no seu íntimo. Não há como sair pela tangente : a transcendência é impossível sem a transformação.
É por isso que quem deseja fazer mudanças na vida conjugal , encontrar a pessoa certa ou aprimorar de fato o relacionamento , precisa identificar a raiz dos problemas. Quando você se conhece e se aceita tal como é , incluindo o eu inferior , constrói com bases sólidas.
Este texto não dá conselhos superficiais , não diz para você sorrir para o seu parceiro quando você está fervendo de raiva ; tampouco lhe diz para destilar essa raiva de forma prejudicial e destrutiva. Ao contrário , ele mostra para você atentar para todos os seus sentimentos sem descarregá-los na direção errada. Ele proporciona esclarecimentos espantosos sobre a natureza das forças feminina e masculina do Universo , sobre o significado espiritual desse aspecto específico da sua existência dualista : o relacionamento. Você poderá empreender com segurança a jornada pela selva do território interior , pois será guiado na travessia das sarças e matas até o Eu Divino que existe no seu íntimo , e do qual emanarão , com a maior naturalidade e simplicidade , todas as respostas que dizem respeito especificamente a você. Você ficará sabendo que tem o poder de criar um relacionamento positivo , funcional e venturoso.
“E os dois serão um” – essas palavras , tantas vezes ouvidas na cerimônia nupcial , referem-se a muito mais do que ao início da vida em comum de duas pessoas. Trata-se de uma afirmação cósmica. “Dois” – a Dualidade – é a condição básica da nossa existência na Terra , e “Um” é o estado de Unidade do qual nos distanciamos e para o qual ansiamos por voltar.
Como o estado de Dualidade é uma cisão da Unidade – a união do paraíso - , ele contém a dor. Ansiamos por voltar ao estado perdido de total felicidade. A transformação daquilo que , dentro de nós , é a causa da separação , da nossa incapacidade de ter um bom relacionamento e permitir que o Amor flua sem entraves , é a meta do trabalho do caminho do relacionamento.
Toda vida espiritual mostra o caminho que vai da auto-separação até a autodescoberta e , portanto , à descoberta do Criador. As idéias deste artigo seguem tradições esotéricas , que , no entanto , são modernas em virtude de aguda percepção da psicologia humana. A Unidade contém tudo e , portanto , também os princípios divinos fundamentais da nossa dualidade terrena : as energias masculinas e femininas , das quais nós , homens e mulheres , somos a manifestação em carne e osso.
Dessa perspectiva maior , o esforço que fazemos para encontrar um parceiro no que diz respeito à afetividade , para manter vivo o Amor e intensificá-lo continuamente , reveste-se de nova profundidade e dignidade. Pois , nesse empreendimento , a tarefa não se resume em superar o medo de deixar de lado a separação e reivindicar uma vida mais produtiva e mais feliz ; também participamos da criação de um grande movimento cósmico , que é a evolução ulterior do Universo. Nossa ânsia por uma união mais profunda no Amor com o outro é irresistivelmente poderosa graças à sua importância cósmica. Aqui , vemos a ligação entre nossa vida individual e temporal e a realidade maior do que nos engloba.
Saber como funciona os princípios masculino e feminino no Universo representará um enorme enriquecimento da compreensão da importância do anseio pessoal por uma união mais profunda no Amor com o outro. Embarque nesse vôo de imaginação rumo a um novo espaço ; seja um viajante cósmico , e volte com novos esclarecimentos e com renovada esperança.
“O que é a vida ?” – A vida é relacionamento , meus amigos. Há outras respostas possíveis , e todas elas podem ser verdadeiras. Mas , acima de tudo , a vida é relacionamento. Quem não se relaciona de forma nenhuma não vive. A vida , ou os relacionamentos de alguém , dependem da sua atitude. É possível relacionar-se , essa pessoa vive. É por isso que a pessoa que se relaciona está mais viva do que aquela que se relaciona pouco. Os relacionamentos destrutivos levam a um clímax que , em última análise , está destinado a dissolver a destrutividade. Mas o não-relacionamento , que , em geral , se disfarça como falsa serenidade , situa-se num nível inferior da escala.
Toda aflição da psique impede o relacionamento. A relação proveitosa só pode existir na medida em que a alma é saudável e livre. Mas , primeiro , é preciso entender mais profundamente o que é relacionamento.
O PLANO DA EVOLUÇÃO
Lembrem-se de que todo o plano da evolução trata da união , da junção das consciências individuais , pois só assim é possível abrir mão da separatividade. A união como uma idéia abstrata , com um Criador intangível ou concebido como um processo cerebral , não é uma visão verdadeira. Apenas o contato real de uma pessoa com outra estabelece , na personalidade como um todo , as condições que constituem os pré-requisitos da verdadeira união e unidade interiores. Portanto , esse impulso manifesta-se como uma grande força , atraindo uns para os outros , tornando a separação dolorosa e vazia. A força vital , portanto , é permeada desse impulso em direção aos outros , e também de prazer supremo. Vida e prazer são uma coisa só. A vida , o prazer , o contato com os outros , a união com os outros são a meta do plano cósmico.
RELACIONAMENTO COM TODAS AS COISAS E SERES
É costume associar a palavra “relacionamento” apenas a seres humanos. Mas , na verdade , esta palavra aplica-se a tudo , até mesmo aos objetos inanimados , aos conceitos e às idéias. Ela se aplica às circunstâncias da vida , ao mundo , a vocês , a seus pensamentos e atitudes. Na medida em que se relacionam , vocês não se frustram ; ao contrário , sentem-se realizados.
O leque de possibilidades de relacionamento é muito amplo. Vamos começar com a forma menos desenvolvida que há na terra , o mineral. Como o mineral é desprovido de consciência , talvez vocês acreditem que ele não se relaciona. Isto é falso. Já que vive , ele se relaciona , porém seu grau de relação é limitado ao seu grau de vida , ou , mais corretamente , ele é mineral porque é incapaz de se relacionar mais. O mineral se relaciona , se deixa perceber e usar. Assim , ele se relaciona de forma totalmente passiva. A capacidade de relação de um animal é muito mais dinâmica. Ele reage ativamente a outros animais , à natureza e aos seres humanos.
A CAPACIDADE DE SE RELACIONAR DEPENDE DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA
A escala da capacidade de se relacionar dos seres humanos é muito mais ampla do que até a mais ousada imaginação poderia conceber. Vamos começar com os seres humanos situados na porção mais baixa da escala : a pessoa totalmente insana que é colocada em confinamento solitário , ou o criminoso que não se diferencia tanto daquela. Ambos estão em retiro total , vivendo em isolamento exterior e interior. Dificilmente se relacionam com outros seres humanos. No entanto , como estão vivos , precisam continuar a ter algum tipo de relacionamento. Assim , relacionam-se com outros aspectos da vida : com as coisas , com o ambiente , mesmo que seja de forma mais negativa , com o alimento , com algumas funções corporais , talvez até mesmo com algumas idéias , com a arte e a natureza. Seria muito proveitoso , pensar na vida e nas pessoas desse ponto de vista. Meditar sobre este tema será muito útil e ajudará a aumentar a compreensão de muitas coisas , para não falar da própria vida de cada um.
Agora, fazendo um contraponto , quero passar imediatamente para a forma superior dos seres humanos. São as pessoas que se relacionam muito bem ; que se envolvem profundamente com os outros ; que não receiam o envolvimento ; que não se armam contra a experiência e o sentimento. Portanto , elas Amam. Elas aceitam o Amor. Em última análise , ter capacidade de Amar sempre se resume à disposição e prontidão interna para Amar. As pessoas pertencentes a essa categoria não amam abstratamente e em geral , mas amam pessoal e concretamente , a despeito do risco. Essas pessoas não são necessariamente santas , nem perfeitas sob nenhum prisma. Podem e têm falhas. Por isso , erram às vezes , e podem ter sentimentos negativos. Mas , no conjunto , elas amam , se relacionam e não têm medo do envolvimento. Libertaram-se de suas defesas. Essa pessoas , a despeito de eventuais decepções ou reveses , levam uma vida repleta de relacionamentos proveitosos e significativos.
O que é a vida para a pessoa comum ? É uma combinação de numerosas possibilidades. Uma pessoa pode ser relativamente livre e relacionar-se bem em determinadas áreas da vida , e ser muito travada em outras. Apenas a profunda introspecção permitirá que você encontre a verdade a esse respeito. Quando um relacionamento parece bom mas carece de profundidade e de significado interior , é muito fácil enganar-se e dizer : “Vejam quantos amigos eu tenho ! Não há nada errado com os meus relacionamentos , e , no entanto , estou infeliz , sozinho e vazio.” Se este é o seu caso , não pode ser verdade que seus relacionamentos sejam bons , ou que você esteja realmente disposto a se relacionar. Você não pode se sentir sozinho e infeliz se tem relacionamentos autênticos.
Por outro lado , se o modo de se relacionar satisfaz apenas uma função superficial , o relacionamento pode ser agradável e divertido , mas um tanto superficial. O verdadeiro eu nunca se revela e , portanto , a pessoa não se realiza. Assim , ela também impede que os outros se relacionem e não lhes dá o que elas , sabendo ou não , estão buscando. A razão é o medo inconsciente de se expor , de permitir que os amigos venham a conhecer seus vários conflitos interiores. Quem não estiver disposto a solucioná-los não pode ter relacionamentos significativos – e , consequentemente , não se sentirá realizado.
A pessoa comum tem certa capacidade e disposição de se envolver e de se relacionar , mas não o suficiente. O intercâmbio e a comunicação ocorrem num plano superficial. Correntes inconscientes afetam as partes envolvidas e , se o relacionamento superficial for íntimo , mais cedo ou mais tarde provocará alguma perturbação. Se o relacionamento superficial nunca se tornar íntimo , nada acontecerá , e tampouco será possível manter a ilusão de que se trata de um vínculo verdadeiro. As tendências destrutivas inconscientes só podem ser desfeitas quando são enfrentadas e entendidas. Isto não prejudica a relação , pois , nesse caso , a comunicação ocorre automaticamente num plano mais profundo , e existe intercâmbio.
Muitas vezes vocês não sabem ao certo o que constitui um relacionamento profundo e significativo : o critério determinador é o intercâmbio de idéias ou o intercâmbio de prazer sexual ? Na verdade , os dois podem estar presentes sem necessariamente tornar a comunicação muito profunda. O único critério verdadeiro é o grau em que a pessoa é autêntica , receptiva e não-defensiva ; o seu grau de disposição em sentir , em se envolver , em se mostrar e expressar tudo o que realmente considera importante. Com quantas pessoas das suas relações você pode dar vazão às suas mágoas , necessidades , preocupações , anseios , desejos ? Com muito poucas , talvez com nenhuma. A maior consciência desses sentimentos fará com que vocês possam encontrar mais amigos com os quais se abrir e cuja vida vocês sejam verdadeiramente capazes de entender.
Se alguém se esconde de si mesmo , como pode estar pronto a comunicar aos outros o que não ousa admitir no seu íntimo ? A conseqüência é o isolamento e a insatisfação. É por isso que , no trabalho de autotransformação , empenhamo-nos tanto em fazer com que vocês aprendam a admitir a verdade para si mesmos. Só então poderão começar a ter relacionamentos verdadeiros em vez dos falsos , e levar uma vida plena. Mesmo a sua relação com outros aspectos da vida , como a arte , a natureza , as idéias , assumirá novas formas , muito mais cheias de vida , enquanto antes elas talvez tenham sido usadas como fuga dos sentimentos perturbadores.
A relação e a comunicação reais podem ser confundidas com a compulsão pueril de contar tudo a todos. Vocês correm o risco de revelar seus sentimentos indiscriminadamente e de se prejudicar , tomando equivocadamente essa tola honestidade , exposição imprudente ou “fraqueza” cruel como prova de abertura e disposição para o relacionamento. Na verdade , trata-se de um mero disfarce , de forma mais sutil , do retraimento para um nível mais oculto. Assim , é possível criar uma “prova” de que não vale a pena se envolver.
Com a verdadeira autocompreensão e com a conseqüente liberação da prisão em que vocês mesmos se colocaram , suas revelações e seus relacionamentos não estarão sujeitos a deformações. Vocês , intuitivamente , escolherão a pessoa certa , as oportunidades certas e a maneira correta. Os eventuais equívocos que ocorrerem não os deixarão arrasados nem serão motivo para novo retraimento. Contudo , o processo de crescimento organizado e a liberdade são conquistas graduais , que só acontecem depois que vocês começam a trilhar a via do autoconhecimento.
Os psiquiatras muitas vezes diagnosticam as pessoas de acordo com a sua capacidade de se relacionar e com a profundidade e o sentido desses relacionamentos. Constatou-se que algumas das pessoas mais seriamente perturbadas aceitam ajuda com mais facilidade do que outras cujo distúrbio não é tão evidente , porque estas últimas podem enganar a si próprias e fingir que as coisas não são tão más , continuando a esconder-se da verdade interior. Este subterfúgio não está ao alcance dos mais perturbados que , consequentemente , chegam a um ponto em que precisam tomar uma decisão : encarar ou não honestamente sua vida íntima , sem ilusões. Essas pessoas podem ser vítimas de um grave colapso , que retarda essa confrontação. Mas estão mais próximas do ponto de decisão – que talvez só atinjam na próxima vida – do que a pessoa menos neurótica que continua a esquivar-se do exame de si mesma.
A maioria das pessoas , não têm uma concepção clara do que seja realmente relacionar-se ou Amar. Seu principal centro de interesse é o eu. Quando se voltam para o outro , o processo não é natural nem espontâneo , mas artificial e compulsivo. Porém , o interesse natural e a cordialidade para com o outro virão para os que perseverarem nesse caminho. Enquanto vocês não conseguirem admitir que são humanos e que precisam de ajuda para expor a própria vulnerabilidade , não poderão ter relacionamentos verdadeiros. Assim , a vida continuará vazia , pelo menos em algumas áreas importantes.
Vocês poderiam perguntar : a mudança de relacionamento e o desejo de ter muitos relacionamentos é uma manifestação saudável ? E a busca de variedade e quantidade ?
Esta é uma daquelas perguntas que não podem respondidas com um simples “sim” ou “não”. Tanto a mudança de relacionamento como o desejo de variar podem indicar motivações saudáveis ou doentias. Muitas vezes , é uma combinação das duas coisas. É preciso cuidado para não cair na esquematização. O fato de um relacionamento mudar para pior não indica necessária e temporária à submissão doentia , ao desejo insaciável de afeto ou a qualquer outra compulsão neurótica unilateral. Antes de poder instaurar-se um relacionamento saudável entre duas pessoas ligadas por diversos fatores de desequilíbrio , uma agitação temporária como essa , externa ou interna , pode exercer a mesma função reguladora que uma tempestade elétrica ou um terremoto desempenham na natureza.
O fato de um relacionamento poder ou não tornar-se essencialmente livre e saudável depende das duas partes. A aparente tranqüilidade e ausência de atritos num relacionamento não indica necessariamente que ele seja intrinsecamente saudável e significativo. A resposta só pode ser dada por um exame aprofundado do vínculo e da sua importância. Não se pode generalizar. Quando duas pessoas crescem juntas em qualquer tipo de relacionamento – uma parceria , um caso de amor , uma amizade – elas passam por várias fases. Se ambas entenderem suas próprias motivações e comportamentos , e não apenas as motivações e comportamentos do outro , o relacionamento terá raízes cada vez mais fortes e será cada vez mais fértil.
A BUSCA DE VARIEDADE NOS RELACIONAMENTOS
Quanto à variedade nos relacionamentos , a resposta também depende da verdadeira motivação. Se o que move a busca é a impaciência e a compulsividade , devido principalmente ao medo , à cobiça e à ganância , devido à incapacidade de manter uma relação autêntica com qualquer pessoa , o que leva a suprir essa carência com uma série de associações superficiais , se a busca do outro é uma defesa contra a dependência ou o medo do abandono por parte das poucas pessoas com quem existe uma ligação mais profunda , não é preciso dizer que se trata de uma tendência doentia. Mas se a busca de variedade é a expressão de uma mentalidade livre , instigada pela riqueza das diferenças entre os seres humanos , sem visar o uso de um relacionamento contra o outro , ela é saudável. Muitas vezes , existem as duas motivações : mas , mesmo no primeiro caso , pode haver uma necessidade temporária de variedade , como reação a um estado de retraimento. Nesse caso , a busca de variedade pode ser um passo em direção à saúde. Uma manifestação negativa , muitas vezes , é uma indicação de uma fase positiva transitória.
MANIPULAÇÃO
Entre dois seres humanos que desejam relacionar-se , mas são muito manipuladores , onde entra o elemento do verdadeiro amor ? O amor elimina a manipulação ?
Enquanto uma pessoa sente necessidade de manipular o outro , o que é uma medida protetora inconsciente , não pode haver verdadeiro amor. Os dois elementos se excluem mutuamente. Se examinarmos a falsa necessidade de manipulação , veremos que ela deriva do medo egocêntrico e do excesso de cautela em relação à entrega ao sentimento e à vivência. A manipulação impede o amor , mesmo que também possa haver certa dose de Amor verdadeiro.
Se o Amor for maior do que esse desequilíbrio , ele o sobrepujará e , assim , a relação será menos problemática. A resolução dos problemas só pode ocorrer por meio da compreensão. Nessas condições , o Amor pode florescer. Mas quando existe escuridão , confusão e recusa em encarar a realidade , não pode haver amor. O fato de você amar não elimina , num passe de mágica , todas as correntes negativas e distorções , os conflitos e medos , as medidas defensivas inconscientes e a manipulação. Não é assim tão simples.
A capacidade de relacionar-se é , na verdade , fácil de ser avaliada : a vida exterior proporciona muitas pistas para quem quer vê-las. Quando o relacionamento é problemático , existem desequilíbrios inconscientes nas duas partes. Cada um , por seu turno , recrimina o outro , ou então chafurda na lama da culpa. Reconhecer que um erro não elimina o outro requer tempo e compreensão ; todos os envolvidos são responsáveis por todos os problemas do relacionamento. Essa percepção sempre tem um efeito muito liberador , simplesmente porque é verdadeira. A verdade liberta da culpa e da necessidade de acusar , de culpar e julgar.
Podemos pensar que às vezes , não é muito mais fácil relacionar-se com alguém que não é muito íntimo , pois o nível de críticas pode diminuir. Claro que sim. Isto vem provar que não se trata de um relacionamento verdadeiro , mas superficial. Relacionamento verdadeiro significa envolvimento , e isso não quer dizer ver apenas os aspectos e movimentos negativos. Envolver-se significa arriscar-se por inteiro. A relação com envolvimento profundo é forçosamente sujeita a atritos , porque é muito grande o número de problemas não-reconhecidos e não-resolvidos dos dois lados. É por isso que cada atrito pode transformar-se num degrau ascendente , desde que a atitude seja construtiva. Não quero dizer que vocês só devam ter esses relacionamentos profundos. Isto seria impossível e irrealista. Mas deve haver alguns , todos diferentes , para que vocês sintam que a vida é dinâmica e frutífera.
OS MALEFÍCIOS DAS EXPECTATIVAS INCONSCIENTES
Para ser mais específico , quero acrescentar que as expectativas , as reivindicações e as exigências inconscientes podem causar um estrago nos relacionamentos. Não porque todas as expectativas sejam necessariamente “erradas” , mas porque elas ficam latentes e provocam tensão nas duas partes ,ao colidir com as exigências do outro. Além do fato de algumas dessas exigências não serem , de fato , nem justificadas nem razoáveis – e só é possível reconhecê-las como tais quando afloram – até mesmo as expectativas justificadas geram problemas quando não se tem consciência delas.
Procurem ter disposição para admitir as racionalizações que separam vocês da verdade e da realidade interior , que impedem a passagem de vocês para uma vida significativa. E que vocês possam vir a saber que a vida é benigna. O fluxo da vida é contínuo e as razões para temer só existem na visão limitada de cada um. Quanto mais eliminarem os grilhões da cegueira que impuseram , mais sentirão a verdade destas palavras !!!
SHAUMBRA e NAMASTÊ !!!