No caminho da auto-análise , aprende-se não apenas a lidar melhor com as dificuldades , mas também com os tempos felizes. A pessoa que ainda está na escuridão e na ignorância dos fatos da existência humana e da importância da vida pode não lidar com os acontecimentos felizes melhor do que com os adversos. Ambos exigem sabedoria , maturidade e o conhecimento espiritual que proporciona o verdadeiro incentivo para o autoconhecimento , para que a busca seja empreendida de modo construtivo.
O desejo de ser amado existe em toda alma humana. Esse desejo , em si , não é apenas legítimo e saudável , mas também , a seu modo , criativo , ou leva à criatividade. A falta de amor pode levar à paralisia das forças criativas da alma. Para satisfazer o anseio de serem amadas , as pessoas muitas vezes escolhem o caminho errado , em parte porque o anseio é inconsciente. Até ser examinado à luz da razão e da realidade, esse desejo é contraproducente e , portanto , gera frustrações. Como , pois , o desejo tantas vezes é inconsciente ? Em primeiro lugar , vamos examinar a razão disso.
O desejo de amor da criança é ilimitado , mas ela é levada a achar que esse desejo de amor exclusivo e ilimitado é errado : portanto , sente culpa. É verdade que o desejo de amor exclusivo e ilimitado é irrealista e imaturo. Mas , como o desejo permanece insatisfeito , a criança chega à conclusão errada de que o desejo de amor , em si , é errado. A conclusão certa seria: “Não posso ter o tipo de amor que queria até agora. Mas tenho o direito de ser amado. Isso pode acontecer contanto que eu , por meu turno , aprenda a amar da forma certa e madura.”
A VERGONHA DE DESEJAR
O primeiro equívoco , portanto , é que o desejo de ser amado é motivo de vergonha. Esse desejo , então , é reprimido e , por isso , acarreta muitas conseqüências infelizes.
Alguém pode pensar : “Comigo , esse desejo de maneira nenhuma está reprimido. Tenho plena consciência dele.” Sim, vocês podem ter ciência do desejo – até certo ponto. Mas , mesmo assim , continuam apenas parcialmente conscientes da tristeza e encontram um substituto do amor que não recebem. A luta é desgastante e provoca reações que torpedeiam a meta desejada. Cada um de vocês , do seu próprio jeito , precisa descobrir de que forma e sob que aspectos seus conflitos estão relacionados com esse esforço universal.
Apesar da vergonha causada pelo desejo de amor e sua subseqüente repressão , não é possível silenciar por completo essa voz clamorosa. A voz está lá , mas só pode se expressar como um desvio ; é por isso que vocês não conseguem obter o amor que desejam. Mas vocês ainda não sabem disso. No fundo , pensam assim : “Querer ser amado é um erro. Não tenho o direito de ser amado , não mereço. É por isso que não consigo.” Mas a voz interior , que jamais pode ser silenciada , continua lutando , à sua maneira errada , persistindo na atitude que faz com que vocês sejam menos amados. Se vocês desistissem de procurar da forma errada , perceberiam que o seu eu verdadeiro pode ser , e será , amado. O círculo vicioso , nesse caso , seria rompido.
A SUBSTITUIÇÃO DO AMOR PELA APROVAÇÃO
Pois bem , qual é a maneira errada ? É a substituição do desejo de ser amado pelo desejo de ser aprovado , de brilhar , de ser melhor que os outros , de impressionar as pessoas , de ser importante. De certa forma , isso parece menos vergonhoso. Assim , as pessoas passam pela vida tentando constantemente se justificar. A substituição pode assumir várias outra formas : fazer com que os outros concordem com vocês , ou sigam os seus passos ; ou provar que vocês concordam com os outros , que estão de acordo com a opinião pública ou a opinião de determinadas pessoas , ou com o que julgam ser a opinião delas – nem sempre as duas coisas são iguais. Todas essas atitudes , e muitas outras , são meros substitutos da ânsia de ser amado.
Uma tendência freqüente – a de se enquadrar , de ser a “ criança obediente “ - , faz parte desse conflito. A tendência que vem para primeiro plano não é a mesma em todas as pessoas. Interiormente , vocês não estão cientes do desejo original , e muitas vezes nem mesmo do desejo substituto – a luta para se justificar para os outros.
A compulsão para provar alguma coisa existe em todas as pessoas ; é apenas o seu grau que varia. Enquanto vocês não entenderem a natureza dessa compulsão – depois de comprovarem que ela existe – não poderão atinar com nenhuma solução e serão incapazes de desistir da luta compulsiva. Mas , se procurarem na direção certa , além de saberem , com o intelecto , que existe tristeza pela insatisfação , também poderão sentir - e isso é bom. Perceberão , nesse caso , que o esforço pela aprovação , para provar uma ou outra coisa , faz de vocês pessoas concentradas apenas em si mesmas , orgulhosas , arrogantes , superiores – ou submissas e , em conseqüência disso , ressentidas. Esse esforço contribui muito para que vocês não sejam amadas , quando poderiam ser , se se libertassem de toda essa camada que insiste em querer o substituto do verdadeiro anseio. Se vocês se permitirem sentir o anseio original , sem medo da suposta “humilhação“ e “fraqueza” nele implícitas , sem medo de sentir a simples tristeza , cujo efeito nunca é prejudicial à alma , estarão contribuindo muito para a sua própria satisfação. E perceberão que o que não é digno de amor não são vocês , e sim essa máscara artificial trabalhosamente elaborada. Em vez de se atolar no sentimento nocivo de piedade por si mesmo , vocês se desenvolverão o bastante para afastar as tendências que os impedem de receber o que merecem.
Mas ainda , vocês perceberão que essa luta é totalmente inútil. Nada que não seja autêntico pode trazer o sucesso. E uma camada sobreposta , cobrindo um desejo original , nunca é autêntica. Mesmo que vocês consigam uma vitória temporária – admiração , aprovação , seja o que for – a sensação final será de insatisfação e de amargura. A decepção será inevitável , pois vocês não conseguem nunca chegar ao ponto desejado ; a vitória é passageira e não abrange todas as pessoas que vocês gostariam de agradar. Mas , acima de tudo , essa vitória será decepcionante porque não é o que vocês realmente desejam. A frustração e a infelicidade sempre têm raízes nesse conflito.
Vocês lutam como se a vida de vocês estivesse em jogo – por dentro. É preciso admitir esse conflito para poder revelar o desejo original de ser amado , e o sentimento de tristeza por não serem amados como deveriam. Pensem na freqüência com que as reações emocionais são desproporcionais quando alguém discorda de vocês. Entretanto , se estiverem profundamente convencidos de que aquela pessoa os ama de todo o coração , e manifesta seu sentimento com ardor e ternura , a divergência não importa. Todos vocês conseguirão lembrar-se de episódios assim. Isso deve servir para provar que minhas palavras também se aplicam a vocês.
Depois de reconhecer essas emoções , é preciso entender que vocês estão lutando por algo que não desejam de fato , e que a vitória possível será proporcional à desesperada intensidade do esforço. Procurem descobrir especificamente de que forma essa luta para provar alguma coisa , ou provar-se , de uma maneira ou de outra traz à tona o que há de pior em vocês. Como ela aparece exatamente ? Esse reconhecimento será menos doloroso e muito mais libertador do que vocês imaginam. Pois , nesse momento , vocês entenderão por que não eram tão amados quanto desejavam , e entenderão que a razão não é o fato de vocês serem o que são , nada podendo fazer a esse respeito. Esse reconhecimento trará ânimo e fortalecimento.
Quando esse esforço para se provar diminui , vocês preparam o caminho para o amor real e maduro. O amadurecimento mental fará com que entendam que o único tipo de amor é o que se recebe de graça. Primeiro , vocês vão começar a deixar que os outros não os amem , se não quiserem. Isso pode causar tristeza , mas não causará tensão , nem compulsão , nem obsessão. Será uma tristeza sem a piedade por si mesmo , uma tristeza que não deixa ninguém realmente oprimido. Portanto , não vai fazer de vocês pessoas desagradáveis.
AMOR FORÇADO
Por dentro , vocês constantemente querem forçar os outros a amá-los. O disfarce é a vontade de ser aprovado , mas , em última análise , vocês querem forçar as pessoas a amá-los , e amor forçado não é amor. A criança que existe em vocês não percebe isso. Mas quando vocês identificarem essas correntes , detectarão a corrente interior que diz claramente : “Os outros precisam me amar.” As pessoas mais fracas , com motivações doentias , podem parecer que cedem temporariamente e que obedecem ao seu comando. No entanto , essa reação só pode trazer vazio e decepção , pois não é o que vocês realmente almejam e que , na verdade , não terão enquanto não abandonarem essa atitude de forçar os outros. A alma forte e madura não pode ser coagida a submeter-se. Ela só funciona em liberdade. Além do mais , vocês nunca respeitarão de fato a pessoa que obedecer a esse comando. Só se pode respeitar a pessoa que ama espontaneamente. No entanto , vocês só receberão essa dádiva espontânea se não forçarem. Não é possível experimentar a dádiva espontânea do amor enquanto a tendência a forçar não for detectada pelo consciente. Assim , primeiro é preciso deixar as pessoas livres , dando-lhes a opção de amá-los ou não. Isto não significa que vocês sempre ficarão contentes com a opção do outro ; no entanto , se enfrentaram a tristeza , ela não lhes fará mal. A gratificação do amor espontâneo será enorme. A essa altura , vocês compreenderão que , no passado , vinham rejeitando a oportunidade de receber o único amor verdadeiro e valioso que existe.
Quando dizemos que vocês forçam os outros a amá-los , não estamos nos me referindo a atitudes conscientes. Estamos falando de emoções. Se vocês entenderem o que está por trás das reações emocionais , verão que temos razão.
DAR LIBERDADE
Vocês perceberão que tomar a atitude generosa de deixar os outros livres , não apenas para errar , para discordar , para ter fraquezas que vocês talvez reprovem , mas também para amar. Se você está consciente do seu desejo original e , depois , da tentativa de forçar os outros , você perceberá claramente que são apenas essas atitudes emocionais do inconsciente que impedem a livre dádiva do amor verdadeiro – e não o fato de ela não ser suficientemente boa. Uma pessoa nessas condições está avançando no caminho.
Vamos examinar melhor outro aspecto do processo interior universal que acabei de descrever. Vocês querem ser amados e são relativamente incapazes de amar , pelo menos não com a intensidade com que querem ser amados. Esse amor se expressa melhor apenas quando o outro age corretamente. Portanto , vocês exigem algo que não estão dispostos a dar. Exigem amor incondicional. Esperam que o outro os compreenda tão bem que seja capaz de amá-los apesar de suas falhas e de suas várias fraquezas. Não percebem que , com essas fraquezas , sem querer , vocês magoam e decepcionam os outros , assim como estes , muitas vezes , sem querer , vocês magoam e decepcionam vocês por causa das fraquezas deles. Vocês precisam ser entendidos e amados apesar disso. Mas não estão dispostos a agir na recíproca em relação às fraquezas dos outros. Essa exigência – não verbalizada e inconsciente – é injusta ; ela equivale a orgulho , pois vocês reivindicam uma posição especial que não querem conceder aos outros. Essa posição é altamente subjetiva e , portanto , irrealista. Essas atitudes afetam o outro com mais força do que vocês poderiam imaginar nesse momento. É fácil perceber que vocês não lucram nada com essa atitude.
Assim , é necessário aprender a amar , pois só então o efeito desse sentimento sobre os outros fará com que eles lhes dêem amor. Para aprender a amar , o primeiro passo é eliminar a subjetividade. Entre muitas outras coisas , o amor é a objetividade. A subjetividade gira em torno de si mesma , e amor e egocentrismo não podem coexistir. Todos vocês sabem que o amor não pode ser forçado ; ele cresce organicamente à medida que os obstáculos são superados. O egocentrismo e o subjetivismo são os maiores entraves para dar e receber amor.
A DISPOSIÇÃO PARA O AMOR
Nenhum ser humano é totalmente capaz de amor real e de objetividade real. Mas existem gradações. Na medida em que observam essa falta de objetividade , vocês ficam mais objetivos e , assim , chegam mais perto da capacidade de amar.
A capacidade de amar aumenta constantemente , acompanhando a disposição de amar. A disposição para o amor , por sua vez , cresce proporcionalmente ao desaparecimento do medo de não ser correspondido , ou pelo menos não exatamente da forma ou na velocidade desejadas. Reconheçam o pavor que desperta uma pequena ofensa ou uma decepção. Ao voltarem a visão interior para essa direção , vocês certamente acabarão percebendo que o terror é totalmente ilusório , como a imaginação exagerada. Por causa disso , vocês relutam em amar. Portanto , a capacidade de amar fica constantemente diminuída e paralisada. Quando vocês tiverem adquirido a capacidade da visão objetiva e imparcial , não haverá possibilidade de serem feridos pelos instintos doentios dos outros. Vocês já não precisarão manter o equívoco de que a tendência masoquista é uma prova de amor. Ficarão livres da ilusão de que qualquer desatenção , mágoa ou decepção é uma tragédia contra a qual é preciso se proteger.
Recapitulando : a solução para o problema de saber dar e receber amor exige que vocês reconheçam 1) as emoções substitutas , cujo objetivo é , sutilmente , forçar os outros ao amor ; 2) a perspectiva subjetiva , encoberta pelas reações emocionais , que impede que vocês amem ; 3) o mundo ilusório onde vocês têm pavor da rejeição ; 4) o efeito de tudo isso sobre a personalidade e o ambiente de vocês.
O pleno reconhecimento desses elementos exige tempo , perseverança e muita vontade de enfrentar tudo o que está dentro de vocês , sem reservas. Quando a verdade dessas palavras adquirir vida dentro de vocês , esses elementos e essas atitudes fatalmente começarão a mudar , de modo gradual , lento porém constante. Com essa disposição , aumentará a capacidade de amar. Vocês saberão discriminar o tipo de amor que desejam dar aos outros , e não ficarão perturbados ao perceber que não receber o amor de todas as pessoas conforme as exigências da criança interior. O fato de uma pessoa não amar ou não aprovar vocês já não constituirá uma tragédia , como agora quando essa percepção é de cunho emocional.
À medida que vocês crescerem e amadurecerem , o fato de não serem amados ou de não receberem aprovação não causará perturbação. Por isso , não trará à tona o que há de pior dentro de vocês. Vocês saberão encarar as decepções da vida com uma certa serenidade. Serão capazes de entender e enxergar objetivamente , sem distorções , as pessoas que os irritam. Esta será a realidade emocional profunda de vocês , e não uma realidade superficial ou artificial.
SHAUMBRA E NAMASTÊ !!!
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